23/05/2008

14 | GLOCALIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

Assim como foi necessário utilizar um novo conceito (o de ‘globalização’) para entender as mudanças que estão ocorrendo na dimensão global, torna-se também necessário gerar outro conceito (o de ‘localização’) para entender as mudanças que estão ocorrendo coetaneamente na dimensão local. Como as duas coisas constituem aspectos do mesmo processo de glocalização ou de emersão da realidade glocal, isso significa que a glocalização confere um novo status ao local que, para ser revelado, exige também um novo construct e uma nova hipótese: a hipótese (no sentido “forte”) da ‘localização’.

O conceito de glocalização só é útil como ferramenta de análise porquanto a mudança social que está em curso no mundo tem um duplo sentido: altera relações na dimensão global e na dimensão local. Dizendo a mesma coisa de outra maneira: altera a relação entre global e local ao possibilitar a existência de conexão direta entre o global e o local. Ou, ainda: elimina a distância entre o global e o local. Com efeito, a conexão direta é uma conexão em tempo real e é, assim, uma conexão sem-distância.

Isso significa que, diante da mudança que ora se processa, o local adquire um novo status que, para ser revelado, exige também um novo construct: o conceito de ‘localização’. Assim como foi necessário utilizar um novo conceito (o de ‘globalização’) para entender as mudanças que estão ocorrendo na dimensão global, torna-se também necessário gerar outro conceito (o de ‘localização’) para entender as mudanças na dimensão local. As duas coisas, como vimos, constituem aspectos do mesmo processo de glocalização ou da emersão da realidade glocal.

Um conceito de ‘localização’ já surgiu em função da necessidade de alocação de produtos (em geral de conhecimento e em geral ligados à informática, como programas) em realidades culturais/nacionais diversas. Neste sentido, localização (ou nacionalização) é o processo de se transferir dados de uma localidade a outra. Trata-se de um superconjunto de tradução, uma vez que envolve não apenas a tradução, mas também a conversão de uma formatação culturalmente específica de dados, como datas, horários e moedas. Segundo tal acepção, além disso, a localização inclui o processamento de todos os aspectos técnicos envolvidos no processo e a visualização adequada de conteúdos localizados. O processo inclui a importação e exportação de conteúdos localizáveis, manipulação de gráficos, recompilação em um ambiente localizado (no caso de conteúdos binários/executáveis), especificação e conversão da codificação de caracteres, redimensionamento de elementos da interface gráfica com o usuário e assim por diante.

Tal conceito informacional de ‘localização’, evidentemente, constitui apenas uma sombra ou um pálido reflexo do fenômeno segundo o qual o local assume um novo status em virtude da glocalização. É, no máximo, uma localização em sentido “fraco”, uma adaptação de ofertas globais a demandas locais.

Há, todavia, uma localização em sentido “forte” e é sobre ela que discorreremos nas próximas seções.