23/05/2008

6 | GLOBALIZAÇÃO INÉDITA

A globalização é inédita: está criando algo que nunca existiu antes.

Há quem afirme que o mundo já passou por várias globalizações. Citam-se, freqüentemente, a globalização ocorrida na época dos descobrimentos ou, ainda, a globalização dos primeiros anos do século 20. Os que dizem isso estão, obviamente, pensando a partir da economia, estão pensando em termos de ampliação e de integração de mercados.

Ora, mesmo desse ponto de vista, a globalização atual é um fenômeno único. Antes de qualquer coisa porque, antes, jamais havia se conformado a constelação particular de fatores políticos e tecnológicos que possibilitou a globalização atual. Por exemplo, não se poderia sequer pensar em um mercado financeiro que funcionasse em todos os lugares do planeta simultaneamente, quer dizer, em tempo real. Primeiro porque as condições políticas do mundo anterior não o permitiriam. Segundo porque a tecnologia disponível não o permitiria.

Mas a razão fundamental e mais substantiva é, simplesmente, porque, antes, não estava acontecendo a mudança social, em sentido amplo, atualmente em curso. Ou seja, não estava ocorrendo, no nível “macro”, a transição para uma cultura global e, no nível “micro”, a emergência de padrões de organização em rede e de modos de regulação democrático-participativos – fatores sem os quais, é bom frisar, a inovação tecnológica atual certamente não teria tomado a direção que tomou. Basta apontar um exemplo: não teríamos a Internet, não, pelo menos, com a estrutura e o funcionamento libertários que a caracterizam, porque as pessoas que desenharam essa rede de redes de computadores teriam feito, historicamente, outras escolhas, condicionadas por outra imagem de ordem, por outros padrões de organização e por outros princípios de regulação, avessos às possibilidades de imprevisibilidade e de holarquia. Essas pessoas não poderiam suportar conviver com a idéia do caos e dificilmente iriam produzir algo que ninguém pudesse, a rigor, controlar, a partir de um modelo preexistente de ordem, de cima ou de fora. Não porque não pudessem reunir disposição emocional (ou a vontade) ou capacidade intelectual (ou os conhecimentos necessários) para fazer isso e sim porque não teriam nenhuma experiência de mudança nessa direção capaz de mobilizá-las e inspirá-las, nenhum precedente concreto que conformasse um novo “lugar” a partir do qual tais escolhas fizessem sentido.

A globalização atual, portanto, é única. A descompartimentação que ela promove está ensejando o surgimento de uma coisa que jamais existiu antes no mundo: um novo tipo de sociedade, uma sociedade cosmopolita global, organizada em rede e capaz de possibilitar a interação entre seus nodos em tempo real.

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