23/05/2008

8 | GLOBALIZAÇÃO INSUFICIENTE

A saída democrática para a crise atual exige mais globalização e não menos globalização.

Não é possível (e nem desejável) barrar a globalização “fugindo para trás” ou tentando se refugiar em um mundo de localidades isoladas. No terceiro capítulo deste livro, veremos que, para o processo de democratização, o problema não é o excesso e sim a falta de globalização.

Referindo-se aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, Anthony Giddens escreveu que “a saída democrática para a crise atual exige mais globalização e não menos globalização. A interdependência global veio para ficar e é mais benéfica para o mundo do que uma retomada da polarização dependência x independência que pretenda atrasar o relógio em várias décadas” (1).

Contra aqueles que, tolamente, culpam a globalização pelo ocorrido, clamando por mais governo, Giddens argumenta: “Precisamos de mais globalização para emergir da fase difícil em que estamos mergulhados. Entre outras coisas, globalização diz respeito a progressos nas leis internacionais... Os movimentos antiglobalização advogam que o hiato entre pobres e ricos está aumentando. Culpam a globalização por isso. Porém, a primeira idéia é questionável e, a segunda, falsa. Não existe uma tendência única para as desigualdades no mundo. Alguns países asiáticos, incluindo a China, têm, hoje, um Produto Interno Bruto (PIB) – em comparação com países ocidentais – muito superior ao registrado há 30 anos. O resultado se deve ao fato de que, durante esse período, tais países obtiveram uma média de crescimento consideravelmente alta. Esse sucesso foi atingido por meio de entrosamentos com a economia mundial, não pela rejeição dela. Países que consideraram isolar-se das influências da globalização, como Coréia do Norte, Mianmá ou Irã (e, claro, Afeganistão), estão entre as mais pobres e autoritárias nações do mundo” (2).

A globalização é adversa por estar ainda inconclusa, incompleta, inacabada. O mundo ficou como ficou (injusto socialmente, desigual economicamente, opressivo politicamente e dominado ideologicamente) muito mais em virtude do unilateralismo (estatista) dos impérios do que por todas as (pouquíssimas) tentativas e ensaios de globalização que já ocorreram. E, do ponto de vista da democracia, o mundo está, neste preciso momento, muito mais ameaçado pelo unilateralismo do novo projeto de império americano do que por todos os efeitos perversos do liberalismo de mercado.

A globalização atual, entretanto, não é uma urdidura dos neoliberais que, por certo, tentam conduzi-la em uma determinada direção. No entanto, não obstante os seus desejos e os seus esforços, nenhum desfecho está assegurado, pois a globalização está em disputa.


NOTAS E REFERÊNCIAS
(1) Giddens, Anthony (2001). “O fim da globalização?”. Brasília: Correio Braziliense, 04/10/2001.
(2) Idem.

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