23/05/2008

GLOCALIZAÇÃO

Para começar, examinemos um (aparente) paradoxo: por que se observam como simultâneos dois movimentos aparentemente contraditórios: a) um de amplificação e, de certo modo, de desterritorialização, em escala global (supranacional) de importantes fatores que condicionam a vida das sociedades nacionais; e b) outro, de reflorescimento da perspectiva comunitária que reforça as identidades sócio-territoriais em escala local (infranacional) possibilitando, inclusive, que elas se projetem em escala global sobrepassando mediações nacionais?
Neste texto vou sustentar uma resposta para a pergunta acima. Tudo isso ocorre simultaneamente porque estamos vivendo, a partir dos anos 80 e 90, um processo de glocalização. A revolução do local, de um certo ponto de vista, nada mais é do que a globalização do local ou do que o resultado do que vamos chamar de processo simultâneo de ‘globalização-e-localização’. É preciso dizer agora o que estamos entendendo por ‘glocalização’. Já vimos no final do capítulo anterior que o que foi chamado de globalização é separável da visão mercadocêntrica que acompanhou a cunhagem desse novo termo. Vamos ver ainda que a glocalização é uma planetarização e uma comunitarização. E que o sentido do processo de glocalização, entendido nesses termos, é o da formação de uma nova sociedade cosmopolita global (planetária) como uma rede de comunidades (sócio-territoriais e virtuais – subnacionais e transnacionais) interdependentes. E, finalmente, que esse sentido pode jamais vir a se materializar, uma vez que a glocalização está em disputa e essa disputa é, fundamentalmente, uma disputa entre o ‘local separado’ e o ‘local conectado’, entre ‘dependência x independência’, por um lado, e ‘interdependência’, por outro. Em seguida, vamos ver que o processo de glocalização impõe uma transformação do velho Estado-nação, ainda que não seja certo se tal transformação será necessariamente glocalizante, pois embora o Estado, ao que tudo indica, não tenda a desaparecer na atual transição histórica, o destino da sua forma atual está em disputa e essa disputa é a mesma disputa que se trava em torno da glocalização. Por último, vamos ver que assim como foi necessário utilizar um novo conceito (o de ‘globalização’) para entender as mudanças que estão ocorrendo na dimensão global, torna-se também necessário gerar outro conceito (o de ‘localização’) para entender as mudanças que estão ocorrendo coetaneamente na dimensão local. Como as duas coisas constituem aspectos do mesmo processo de glocalização ou de emersão da realidade glocal, isso significa que a glocalização confere um novo status ao local que, para ser revelado, exige também um novo construct e uma nova hipótese: a hipótese (no sentido “forte”) da ‘localização’.

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